sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A ÚLTIMA PROFESSORA.


Olá, amados leitores!
Eu não poderia encerrar este mês de outubro, mês em que comemoramos no último dia 15 o Dia dos professores, sem deixar aqui registrado uma homenagem a essa categoria profissional infelizmente tão desvalorizada pelo Poder público.
O mais triste disso é que esse pouco caso por parte do governo com os professores acaba se refletindo na sociedade de forma altamente negativa.
Antigamente a profissão era valorizada econômicamente e socialmente.Ser professor era sinônimo de ser importante, respeitado! Em sala de aula não eram destratados em hipótese alguma!Ao contrário, os alunos tinham na figura do professor alguém que merecia o mesmo respeito que era dirigido aos seus pais!
O salário de um professor dava tranquilamente para sustentar uma família sem que o mesmo precisasse se matar de dar aulas em duas, três escolas como vemos hoje em dia.
Porém a falta de respeito com que são tratados pelo próprio governo brasileiro que lhes dispensa um salário indigno, incompátivel com a nobreza da função que exercem, a desmoralização da classe e mais um conjunto de imoralidades a que são expostos acabam por fazer com que toda a sociedade não os trate mais com o respeito que merecem!
Isso é muito triste!
A cada dia vemos mais e mais relatos de professores sendo agredidos moral, verbal e até fisicamente por seus alunos. Professores ameaçados em sala de aula pelo poder paralelo.Professores passando dificuldade financeira.
Sinceramente não sei precisar quando foi que perdi o gosto por exercer o magistério...Sim! Sou professora por formação!
Lembro-me que quando manifestei o desejo de ser professora no final dos anos 80 meus pais já não aprovaram. Haviam muitos cursos voltados para a área técnica sendo inseridos no segundo grau.Eles preferiam que eu tivesse optado por um curso técnico ao invés do curso Normal.Lembro-me também que para que eu tivesse bastante tempo para pensar e desistir de idéia, só foram assinar os papéis para que eu fizesse a prova do Instituto Superior de Educação, que na época ainda era IERJ, no último dia!
Realmente eu sonhava em ser normalista!
Amava aquele uniforme!Amava estar no colégio!Queria mesmo me formar professora e exercer o magistério!Não me conformava com o analfabetismo de forma alguma, tanto que me especializei em alfabetização de adultos e por três anos consecutivos lecionei "de graça" no Projeto Mobral.Para quem não se recorda, esse projeto era voltado para a alfabetização de adultos que não tiveram oportunidade de aprender a ler e escrever. Era um curso noturno, trabalhoso, cansativo e até mesmo perigoso visto a hora em que eu terminava de dar aulas e o trajeto que fazia até em casa. Mas eu amava!Me realizava ver alguém escrevendo o seu próprio nome sozinho!Sem ter que fazer uso das digitais para reconhcer documentos.Era uma lição de cidadania!
Mas o fato é que eu também, como muitos colegas de profissão, fui perdendo o gosto pelo magistério...
Os anos passavam e eu não via perspectiva de um vida econômica decente se permanecesse na profissão...a menos que me matasse de trabalhar, correndo de uma escola para outra como faziam muitos outros colegas, virando noites elaborando planos de aulas, corrigindo provas, preparando matérias; coisas que certamente poderia fazer durante uma parte do dia se ganhasse o necessário para sobreviver dignamente lecionamdo somente em uma escola mas que infelizmente não era e continua não sendo a reliadade do Professor.
Não me arrependo de ter me formado Professora mas igualmente não me arrependo de ter deixado o magistério e dado outro rumo a minha profissisonal.
Exercer o magistério exige total entrega, doação incondicional ao ofício independente de tudo de negativo que assola a classe.
Eu não me imagino dentro de uma sala de aula exercendo a função cercada de frustração.
Mas também entendo que ensinar é um dom de Deus!
Esse talento está em mim acima de qualquer coisa, então fiz da vocação uma opção e não obrigação na minha vida profissinal.
Hoje leciono por prazer, por doação, para ajudar quem tem dificuldade mas não mais condicionada a um contra-cheque que desvaloriza em único dia tudo o que eu valorizei preparando um mês inteiro!
Por isso, como tributo aos meus colegas de profissão que se dedicam a arte do magistério e como alerta a sociedade para a importância que se deve dar a um Professor, é que posto o texto abaixo.
Espero que gostem e que reflitam sobre o conteúdo que ele traz!
Bjú!!!

Cleide Capitu.

A ÚLTIMA PROFESSORA.

Estamos em 2989 e alguns cientistas, trabalhando nas ruínas de um sítio arqueológico (local outrora conhecido como Jacarepaguá), encontraram uma mandíbula de mulher. Levada ao laboratório, descobriu-se que ela pertencia a uma professora. Não uma professora qualquer, mas provavelmente a última da espécie classificada como de 1º Grau que viveu por volta de 2020 num antigo país chamado Brasil.
No final do séc. XXI, o Brasil que conhecemos se tornou um aglomerado de tribos independentes, expressando-se nos mais diferentes idiomas. A descoberta do que ficou conhecido como a Professora de Jacarepaguá (uma versão mais moderna do Homem de Neanderthal) tornou possível encontrar as razões da dissolução do país.
Buscando nos livros, os cientistas perceberam que houve uma época – entre o início do séc. XX e meados dos anos 50 – em que professores desse extinto país ocupavam uma posição invejável na escala social. As famílias monogâmicas das classes médias (e algumas altas) orgulhavam-se de poderem encaminhar suas filhas para a profissão. Casar com uma professora era a aspiração suprema de muitos homens. Elas eram olhadas com respeito, admiração e desfrutavam de um status semelhante ao dos militares.
Reconhecidas na sua missão histórica de educar, recebiam – acreditem – um salário que chegava ao final do mês. Alguns iam além.
Não se sabe precisar a data, mas parece que foi no final dos anos 70 que o magistério começou a desabar na escala social. Por mais que quebrem a cabeça, nossos cientistas não conseguem entender as razões dessa queda vertiginosa. Não terá sido por falta de escolas, porque o país esforçava-se para entrar na modernidade e necessitava ampliar sua rede escolar. Não terá sido também por falta de quem educar, porque esse atrasado país somava mais de 50 milhões de analfabetos e semiletrados no início dos anos 90. Muito menos pela possibilidade de substituir professoras por robôs, televisores e computadores. Por que então os magistrados passaram a ser tratados como os servos do antigo Egito?
A princípio, suspeitou-se que esse povo atrasado e tropical tivesse uma caixa craniana inferior a das raças desenvolvidas. Mais tarde, encontraram-se outras razões para o declínio do magistério: um complô contra a educação, criado pela classe dominante (10% da população), que detinha mais de 50% da renda nacional. Não interessava a ela ver o saber democratizado, ou seus privilégios estariam ameaçados. Os professores despencaram para os últimos lugares da tabela econômica, equiparando-se aos profissionais (não especializados) mais mal pagos desse triste país. Alguns, ganhando salário-mínimo, recebiam menos do que os operários que ajudaram a levantar os Jardins Suspensos da Babilônia.
O resultado é que, a partir do início do século XXI, o professorado tornou-se uma espécie em extinção. Documentos da época informaram que, quando uma jovem anunciava o desejo de ser professora, a família a colocava de castigo. Era preferível ganhar a vida como chacrete em programa de auditório. Os cientistas pesquisaram o desaparecimento de outras atividades nesse país: funileiro, cocheiro, acendedor de lampiões. Ocorre que esses profissionais foram engolidos pelos avanços da civilização. No caso dos professores, não há progresso nem tecnologia capaz de substituir sua presença. É a professora quem nos leva pela mão na travessia para as primeiras letras. É ela quem nos coloca no ponto de partida e, com uma palmadinha no traseiro, parece dizer:"Agora vai à luta".
Segundo os cientistas, os governos da época, preocupados com questões mais transcendentais, não perceberam a escassez de professores no mercado. Foi preciso que as escolas começassem a fechar e os donos das escolas particulares esperneassem desesperados para o governo tomar providências.
Que providências? Importar professores, como fez com o álcool. No início dava-se preferência a Portugal e às ex-colônias. Mas eles também tinham suas crianças para educar, de modo que o Governo teve que recorrer ao Paraguai, Bolívia, Guianas. Logo, os países desenvolvidos – que já dominavam a cultura do Brasil – perceberam o alcance do negócio e trataram de enviar, gratuitamente, bandos de professores às escolas brasileiras.
O país tornou-se uma Babel. Em algumas regiões, ensinava-se em japonês; em outras, em alemão ou inglês, ou italiano ou espanhol. Em apenas uma única escola, em Jacarepaguá, uma professora resistia, ensinando os alunos em português. Sua morte tornou-se um marco na história da Educação nesse país. Foi enterrada com honras de herói nacional e o monumento ao "Professor Desconhecido", erguido no antigo Centro da Cidade, reproduz seu rosto na figura principal. Ao pé do monumento, os dizeres: " "A última professora brasileira, homenagem dos seus ex-alunos".
Foi a última frase que se escreveu em português nesse extinto país".

6 comentários:

  1. Oi, Cap...
    Ensinar requer a colaboração e união de todos. Desde a pessoa que pretende ser professor, passando pela educação que os pais dão aos filhos, sociedade e chegando até o governo. Quando um dos elos se desestrutura, a tendência é criar um efeito dominó. Um depende do outro e nenhum tem condições de fazer algo sozinho.
    Ser professor, neste país, é raro e nem todos têm a devida vocação e amor.

    Beijo!

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  2. Legal seu blog. Cheguei à ele através de uma indicação no e-mail de uma amiga, coisa boa é assim a propaganda vai longe e sempre mesmo que devagar. Bom fim de semana!

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    1. Q bom que chegou!
      Esteve meio abandonadinho, rsrsrs , mas estarei retomando as atividades aqui!
      Super bjú!

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  3. Gente, que belo, teu olhar analítico carregado de criticidade, deixando aí a verdade estampada dos nossos tempos e com um olhar além, que sabes o que acontece e acontecerá futuramente, percebi em determinado trecho do teu texto a importância do afeto ligado ao ato de ensinar, 'esse vai à luta' me tocou intimamente, pois provei dessa força, de muitos professores que tive, mas que teve uma em especial, que me tocou o coração, abraçou-me e disse: Força.

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  4. Lindaaaaa!
    Obrigada pelo carinho!
    Q bom q entendeu a profundeza da mensagem! Ser Professor aciima de tudo é um dom e isso não há quem possa tirar de nós, nem o poder público, nem o poder paralelo, nem o descaso social, nada!
    Siga em frente!
    Super bjú!!!

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